a tarde
em fiapos se esvai
e escrever é uma forma
de espantar este tédio
os nós dos sonhos
são os acasos
da noite
o ocaso
entre o cosmos
e o corpo celeste:
- é crepúsculo ou ócio -
é tudo o que sinto
neste instante
nenhum músculo
me (co)move
muito mais a míngua
que a alma
dita sorve
onde (re)nasce o alvor
desta face
que se faz trégua
para ser carcomida
que não se entrega
ou quase nada
como um peixe fora d’água
é farinha de osso mauro
e sob grossas lentes
esta engrenagem
gangrena e turva
como a tarde (ex)tensa
a arder em cadência
marcha lenta
veja: nas ruas este pó
se despedaçar
em pedras
onde as pedras
se servem de um mar
de lágrimas
o mesmo mar
que se enerva
lá onde a onda vaga
e se entreva
e são vagas as ondas
a açoitar o tempo
como o vento tresnoitar
os sonhos
ah ! os sonhos !
passam: a espuma e a névoa
quebram-se na calva areia
já cansada
do vai-e-vem do vem-e-vai
das águas desta tarde
inacabada
são trevas sobre os trevos
de três folhas no jardim
lá de casa
nenhum de quatro folhas
pois como sempre
estou sem sorte
( os pássaros passam os ácaros )
acordo nesta ausência
e tudo é claro e ácido
e está ao alcance:
inclusive a morte
(r)adiante
sem dó nem piedade
de nós mesmos
feito abantesma
entre os cancros
dos ramos dos álamos
súbito: um olhar pela porta
revela o âmbito
das estrelas
- e são mais do que pedras -
como o mármore branco
que emoldura o rosto
desta tarde que resta
tão serena ainda
em queda.
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