quinta-feira, 24 de maio de 2012

A lua desapareceu do céu.

a tarde
em fiapos se esvai
e escrever é uma forma
de espantar este tédio

os nós dos sonhos
são os acasos
da noite

o ocaso 
entre o cosmos
e o corpo celeste: 

- é crepúsculo ou ócio -

é tudo o que sinto
neste instante
nenhum músculo
me (co)move

muito mais a míngua
que a alma 
dita sorve

onde (re)nasce o alvor
desta face
que se faz trégua

para ser carcomida 
que não se entrega
ou quase nada

como um peixe fora d’água
é farinha de osso mauro 

e sob grossas lentes
esta engrenagem
gangrena e turva

como a tarde (ex)tensa
a arder em cadência
marcha lenta

veja: nas ruas este pó 
se despedaçar
em pedras

onde as pedras 
se servem de um mar
de lágrimas 

o mesmo mar 
que se enerva
lá onde a onda vaga
e se entreva

e são vagas as ondas
a açoitar o tempo 
como o vento tresnoitar
os sonhos 

ah ! os sonhos !
passam: a espuma e a névoa

quebram-se na calva areia 
já cansada

do vai-e-vem do vem-e-vai
das águas desta tarde
inacabada

são trevas sobre os trevos
de três folhas no jardim
lá de casa

nenhum de quatro folhas
pois como sempre
estou sem sorte

( os pássaros passam os ácaros )

acordo nesta ausência
e tudo é claro e ácido
e está ao alcance:

inclusive a morte 
(r)adiante

sem dó nem piedade
de nós mesmos 
feito abantesma

entre os cancros
dos ramos dos álamos

súbito: um olhar pela porta
revela o âmbito
das estrelas

- e são mais do que pedras -

como o mármore branco
que emoldura o rosto
desta tarde que resta
tão serena ainda
em queda.

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