quarta-feira, 30 de maio de 2012

Desencontros


Celular descarregado. Relógio sem pilha. Atraso. O castigo é ficar sem café da manhã por falta de tempo. Primeira aula: chata. Segunda aula: sono e fome (lembra do café da manhã.) Perdi o ônibus por ficar conversando sobre a aula que não entendi. Estava com sono demais para prestar atenção. Não te vi. Voltei para casa cansada, deixei de ir àquela festa de 15 anos que exigia mais disposição do que eu tinha no momento. Não te encontrei. Todo mundo resolveu ir ao barzinho, mas acho que vou ficar em casa, quem sabe ler Clarice, Caio ou umas tirinhas do Charlie Brown. Você foi. Eu não. Quis me achar em outras pessoas, mas não deu. Não houve aquilo lá, que você procura e eu também: reconhecimento de almas! Fui dormir contando sonhos. Você, de ressaca. Acordou e sequer lembrou do sonho. Acordei com mais disposição, querendo ver um filme, sair para um lugar mais tranquilo! Do que você não sabe: tenho uma alma com 100 anos. Foi tomar um café forte para ver se despertava. Tive aula de redação. Voltei para a casa mais cedo porque o professor do segundo tempo faltou. Você resolveu sair para comprar jornal. Eu resolvi sair para comprar revistas na banca da avenida mais movimentada da cidade onde moramos. Saímos ao mesmo momento. Do que você não sabe: só não esqueço a cabeça porque é grudada no pescoço! Voltei para buscar o dinheiro que havia esquecido para comprar a revista. Você comprou o seu jornal e voltou para casa. Eu comprei a minha revista e fiz o mesmo! À noite telefonema da amiga convidando para ver o show do Chico. Mais um compromisso cancelado por ter que estudar. Seu cantor predileto: Chico. Estava lá na primeira fileira, foi desacompanhado porque seus amigos acham que é som de velho. Voltou para a casa nostálgico, sem vontade de conversar com ninguém. Eu liguei para umas dez amigas só para jogar conversa fora. A gente tem mania de disfarçar solidão com conversa. Seus amigos te ligaram para ir ao Karaokê e tomar cerveja quente. Você não foi. Do que você não sabe: eu sou rabugenta, adoro Karaokê e estava lá. Não cantei. Acorda, estuda, trabalha, vai a barzinhos, dorme, chora sem medo do que possam pensar, canta afinado um samba qualquer, sorri, lê tudo que vê pela frente, pensa em me encontrar. Acordo, evito os barzinhos, não sei estudar, hiberno, canto mal, sorrio de tudo, penso mais do que devo e acho que você não existe. Do que eu não sei: que você acredita mais que tudo que vai me achar. Banca de revista, livraria, supermercado, show de rock, barzinho, cinema, shopping, carro ao lado do meu no semáforo, em um novo curso que pretendo fazer, na pós-graduação que pretendo cursar, na igreja que quase nunca vou, na feira que só vou para fazer favor. Palpites? Eu-não-acredito. Palpites? Eu tenho um: onde o meu coração marcou com o seu, em outras vidas, enquanto tocavam outros batuques que não o dos seus dedos nervosos enquanto espera uma bobagem qualquer. Lá onde nossa alma se encontrou, antes mesmo de nascermos. Lá onde há a curva que Deus mandou fazer só para nos esbarrarmos enquanto estamos distraídos olhando o outdoor que anuncia um show de MPB. Nossa história é contínua, cheia de pontos, mas nenhum que possa ser considerado final. Fazemos parte de uma história que ainda não foi, mas que basta uma piscadela de quem fez aquela curva para que as coisas aconteçam.

[Noemyr Gonçalves]

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