sábado, 31 de outubro de 2009

Infância tardia

Por não termos a senha da roda-gigante, nos sentamos na xícara, porque ela também anda em círculos. E aí, você começou a girar, nunca me perdendo de vista, sempre me mantendo na posição de único objeto em foco em meio a um borrão multicolorido. Então, você quis mais. Acelerou. Girou tão rápido que tudo ao redor ficou de uma cor só, e meu rosto borrou. Qual o sentido de ir rápido demais quando não se chega a lugar algum? Não, eu não sinto muito por ter gritado até fazer você parar. Eu te puxei pelas mãos e nós saímos juntos - ainda que trôpegos, nauseados. Um pra cada lado.

Sobre mãos e asas


Ela era o tipo de pessoa que sempre quis segurar um passarinho. Toda vez que algum se aproximava, ela - sem saber porquê - o espantava. Era quase involuntário. Talvez fosse vontade de saber em que velocidade ele fugiria, saber qual o efeito que seu movimento causaria nele. Talvez fosse medo que ele chegasse perto demais e fosse embora por vontade própria. Ou conseguir segurá-lo entre os dedos e sufocá-lo com a força que fazia para que ele não fugisse. O fato é que ela sabia que não poderia segurar o passarinho para sempre. Jamais cogitou gaoilas - ora, passarinhos nasceram para voar! Mas e se ele resolvesse ficar? E se sentisse que suas mãos eram um ninho? E se ele cantasse todas as manhãs só para vê-la sorrir, saísse para caçar umas minhocas e voltasse todos os dias? Ela se sentiria responsável por ele, o esperaria voltar. Teria medo que não voltasse. O problema era que, por trás do ato impulsivo e involuntário de espantar o passarinho, havia todos estes medos. Todas as remotas possibilidades. E se ele não voltasse? E se ela se encantasse com o cantar de outra ave? E se ele se encantasse com o cantar de outra ave? Ele continuava pulando na direção da garota, e então ela pensou que, talvez, se ficasse muito quieta, ele pudesse confundi-la com algum elemento do seu hábitat, como uma árvore, e pousasse em seu ombro. Mas o que isso mudaria, afinal? Que importava que suas mãos fossem capazes de se fechar ao redor do corpo inteiro do pássaro, mesmo que ele não pudesse diferenciá-las de galhos? Ela sabia não poder criar raízes...
Mais fácil criar asas e voar com ele. Se fosse possível.


Sim


Abri mão dos embrulhos. O presente veio seco, direto de teus lábios, e não era um beijo. Você sempre soube as palavras certas. Deus sabe que, durante aqueles dias, o meu passatempo era me esconder atrás das cortinas e te observar enquanto pensavas estar sozinho. Conhecer teu eu verdadeiro. E foi tão lindo descobrir que não, não havia nada a ser descoberto... Te amei ainda mais. E sabes que o fato de saberes que eu só te deixei vir para preencher meu próprio vazio quase me fez pensar que fosses tu, mas o teu "não" foi tão certo, tão ponto final. Eu nem te perguntei, e disseste "não". Te amei ainda. Depois que te flagrei atrás de uma cortina, eu entendi. Nós procurávamos motivos, éramos iguais até no medo. Te amei. Era tão assustador ter algo pleno, era tão definitivo. Nós sabíamos, mas éramos humanos. Que ingênuos havíamos sido ao esquecer este detalhe. Então, sem esperar, te descobri tão humano quanto eu, ainda mais. Separados por uma cortina - era este o nosso destino? Foi por isto que esperamos uma vida? Mais. Sorrimo-nos de nós mesmos. Não. Não seria assim. Procurávamos por uma certeza, por uma garantia. Encontramos mais do que esperávamos, não soubemos o que fazer e, de repente, tudo ficou claro. Teu "não" se calou para sempre. Disseste o que já sabíamos, com um sorriso dançando nos lábios. E a história nunca terminou.

De sempre em diante

­- Você me faz ir contra meus princípios!
- Para que princípio, se eu sou seu meio e fim?

Aos olhos alheios

"Um dia tu vais compreender que não existe nenhuma pessoa totalmente má, nenhuma pessoa completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?"


Teus hábitos se tornarão reações inusitadas, teu sono será interpretado como desinteresse, teu cansaço será confundido com rudeza. Qualquer vírgula ganha um poder de exclamação, e tudo o que você pede é que, por favor, não haja nenhum ponto final na sentença. E a mudança foi para ti, mas não em ti. Procuram motivos para sentir incômodo com tua felicidade, enxergam mudanças onde não houve, te acusam de ser quem sempre foste, como se, de repente, tivessem se dado conta do que já sabiam. Ah, ........, que bom que não só tu me entendes.

Dor e cura. Dor é cura.


Sei que minhas perguntas são o dedo sujo na ferida aberta, mas, perguntando, descobri tuas palavras como aquele remédio que arde e sara e mata todas as bactérias e faz a pele fechar. E, ainda que a cicatriz permaneça visível e brilhante por todos os nasceres de sol até o fim de nossas vidas, nenhuma faca é capaz de abrir uma ferida que eu fechei, que nós fechamos. Por isso eu pergunto e a resposta me arde e me queima e me transborda numa dor úmida e salgada, numa dor quase desumana e, ainda assim, me faz bem tua resposta. Porque tu és minha resposta. E só tu tens o poder de me curar.
"Sweety, you can't disappoint me. Because, whatever you are, is exactly what I want."
"Tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, só queria ser feliz, cara. Gorda, burra, alienada
Gorda, burra, alienada e completamente feliz...
Até que chegue o verão.

Not even a dilemma

Bem que meu avô já dizia, e minha mãe sempre repetiu:" É melhor ser e não parecer do que parecer e não ser".Eu nunca concordei - e continuo não concordando - que seja melhor. Mas sempre soube - e hoje confirmo - que, com toda certeza, deve ser muito mais fácil.

Desenfreados


"Você me avisar, me ensinar
Falar do que foi pra você
Não vai me livrar de viver."



Ele se via como alguém em frente a uma bifurcação que levava a dois caminhos certos, apesar de diferentes. Eu o via como alguém de frente para um muro, com o pé no acelerador. Por já ter acelerado contra um muro pensando estar seguindo um caminho, tentei fazê-lo parar. Teria eu mesmo pisado no freio, se pudesse. Não pude.Sabe, dói. Dói ouvir a batida e saber que logo vou ver os estilhaços. Dói não poder fazer nada enquanto te vejo ir de encontro a uma parede tão sólida. Irreparável. Dói imaginar a droga que te injetaram e o efeito que ela te causa - muito além de alucinação. Dói ver teu vício, dói mais ainda te ver gastando teu sangue pra sustentá-lo. E vai doer tirar teu corpo das ferragens, mesmo ainda com vida. Teu sangue espalhado no asfalto - dói. Dói saber que vai doer muito mais em ti.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Eterno Substituto


"Um curinga é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei e nem valete. É um caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas aquele não é seu lugar. Por isso ele pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele."


"Se no meio de todas as pessoas houver apenas uma que se surpreenda com a vida a cada instante e tenha a sensação, toda vez que isso acontece, de estar diante de algo fabuloso e enigmático... se apenas uma delas experimentar a vida como uma aventura fantástica... e se ele ou ela experimentar essa sensação todos os dias... ele ou ela será um curinga no baralho."


E assim você se contenta com a gaveta. Com o lugar na coleção de peças-não-encaixáveis. Toma consciência da razão de ser das regras impostas por todos/ninguém: não deixar que o jogo seja fácil demais. E não mais lamenta não participar dele. Às vezes ainda bambeia as pernas com o peso da responsabilidade de não ter um número, de não ter um naipe. De ser capaz de se encaixar em qualquer lugar, mas não pertencer a nenhum. De ser o eterno substituto, ocupando um lugar que não é seu. Mas não quebra mais a cabeça tentando entender por que não tem nenhum símbolo gravado nas costas. Sabe tanto quanto os outros, mas ainda assim se pergunta. Ainda assim se surpreende com a presença ou ausência de respostas. Ainda assim as procura e, ainda assim, sem fazer parte do jogo, entende as regras como ninguém, e agradece por não precisar segui-las. Pelo menos na maior parte do tempo.


Às vezes, dádiva.

Quase sempre maldição.

Castelo em ruínas

Ela chorou sentada sobre os escombros do que um dia foi. Os olhos ardiam como se o pó enraizasse na nascente do rio salgado que escorria, descontrolado. Os mesmos olhos que brilhavam furtacor-beija-flor-bolha-de-sabão hoje sustentavam o brilho branco-leitoso, opaco, quase fosco da perda do que não volta, do que já não se tinha. Mas a lembrança triste despencara sobre as alegres-inocentes-infantis com a mesma força com que a parede despencara sobre a grama seca já sem rosas, já sem latidos, já sem ameixas, já sem hibiscos. Ficou só espinho, só sobrou caroço. Osso. O esqueleto de uma vida sem carne, sem sangue. A cartilagem consumida pela terra, aquela que ligava e mantinha o organismo funcionando. Peças separadas, sem encaixe, cada uma sendo devorada por um verme diferente. Sem pulso. Sem vida.

É aqui

Como alguém pode ser capaz de criar um inferno dentro de si mesmo?

Tal qual todo o resto



O lado bom de descer ao inferno é que lá se encontra uma chave do céu.
E jamais se perde.

um laço, um nó

Você lembra de uma pessoa com um sorriso idiota até as orelhas e um nó de marinheiro no peito. por quê? porque ela foi importante. Porque você foi embora - e ela ficou e principalmente porque você pensa que nunca mais vai ouvir falar dela de novo. Você guarda uma lembrança, uma folha de caderno escrita com caneta hidrocor, e sabe que nunca, NUNCA aquele papel vai ser esquecido, aquele pedaço de papel que é a única prova física de que aquela pessoa importante realmente existiu, e de que ela também se importou com você. E, de repente - não mais que de repente -, em um domingo de sol como tantos outros, bá BÁ! um sorriso que dá três voltas na sua cabeça, e lágrimas, e uma sensação de felicidade absoluta, talvez. Ela existiu mesmo, do jeito que eu me lembrava! ela é linda por dentro, ela é linda por fora e ela está feliz. E eu também! as duas pontas da fita formaram finalmente um laço. Um nó de marinheiro.

Porque eu sei que é assim

A meu ver, o pior tipo de pessoa é aquele que procrastina. Sabe? Aquelas pessoas que se enganam de propósito, por pura preguiça. Aquele tipinho que se convence de que os outros vão estar aqui pra sempre, só pra poder adiar uma visita. Que finge que acredita que aquele trabalho pode realmente ser feito no último dia. Que sabe que está errado e, ainda assim, continua agindo do mesmo jeito. Talvez o tipo de pessoa que não trabalha, só estuda à tarde, mora ao lado da faculdade e consegue chegar atrasado todo santo dia. Ou que deixa de visitar a avó doente porque quer se convencer de que ela vai estar aqui pra sempre, ou pelo menos por mais uns vinte anos, mesmo que tudo caminhe pro lado oposto. Esse é o tipo, entende? O pior de todos. Aquele que adora mudanças, mas tem medo delas. Medo de assumir responsabilidades. Falta de confiança em si mesmo.Por quê? Eu vivo me perguntando por que demônios eu adio tanto essa visita. Medo de conviver com a realidade da finitude da vida - especificamente daquela vida - ou algo do tipo? Medo de me apegar demais e depois perder? Medo de decepcionar aquela pessoa que só merece alegrias?E foi com essas perguntas que eu cheguei à conclusão de que eu faço parte do pior tipo de pessoa - a meu ver, claro: o tipo que, no medo de perder, acaba não tendo.

e a insônia...

por que eu ainda não fui dormir?

POR QUÊ?

Hora Errada.

Ela o olhou nos olhos e desviou. Quis dizer que o amava também, mas sabia que amava todo o resto um pouco mais. Foi confuso, no início, estar na posição de pessoa amada em uma relação unilateral. Mas ela deu um jeito. Decidiu que não corresponder também doía. Porque perdera a chance de amar, talvez? Ou porque a dor do outro a atingia? Tanto faz. O importante é que doía e, tão cedo ela aprendera a conviver com a dor, que tornaram-se companheiras - ela precisava sofrer para manter-se. Não sabia se era capaz de se sustentar sem lamentar e conformar-se com algo, porque nunca havia tentado. Não sabia se havia fichas a serem apostadas. Desviou o pensamento da dor recém criada - e com a qual já se havia conformado -, resolveu voltar aonde estava. Pensou em dizer que era tarde demais, que ela quase o havia amado também, que eles andavam em passos diferentes, essas coisas. Não teve coragem. Pensou em outras explicações para o que não se explica, uma pior do que a outra, e, não sabendo o que fazer, teve a pior reação possível: ela riu. Um riso nervoso, como se fosse algum tipo novo de piada, uma dessas de humor negro, que nos faz rir sentindo culpa... uma risada para quebrar o silêncio - que acabou quebrando algo mais.

Fly Away

O tempo de vida de uma borboleta varia de duas semanas a três meses. Ela nasce feia, minhoca desengonçada... se fecha num casulo apertado e sai de lá perfeitinha ...dá uma volta por ai, para em algumas flores ... e ai morre.

assim como nós, assim como os sonhos...

yellow white pink stripes

Uma meia sem par,
do tamanho do meu polegar.
Esquecida no posto de gasolina,
como foi que caiu do pé da menina?
De quem foste não sei,
então por que te guardei?
Para que me lembrar
do que nem mesmo sei?
"we celebrate the lives of the deadit's like a man's best party only happens when he dies..."

Ele diz: Tenho certeza que lembras desta data com felicidade.Ela diz: Que bom que tu sabes. Uma felicidade apertada... mas ainda felicidade.

Rabiscos Remotos

de longe, te esqueço. De perto, te quero mais próximo. Somos ímãs - de pólos opostos. Ímãs de metal polido, de metal barato. Rachado por um muro vítreo separados.(percebo: nesta história há algo de errado)como pode, em um par de ímãs haver atração apenas de um lado?


permito-me
(deste ponto)
percebo-te
(quase morto)
proíbo-me
(desaponto)
persigo-te
(não te encontro)

como pode um ponto de interrogação mudar de uma frase inteira a intenção?
'Eu que já chorei tanto por amores quebrados sem possibilidade de cola. Que quis gente errada, na hora errada, do jeito errado. Amei um, esperei alguns e espezinhei outros, bem poucos. Que vou até o fim do caminho pra não ter dúvida sobre a felicidade morar na última curva, calejei os pés e sangrei inteira. Que não tenho porcentagem meio: sempre cem por cento, seja nas risadas ou no desejo de deixar de existir que me acompanha desde que me tornei um ser e volta, poderoso, toda vez que o horizonte escurece e meus olhos enxergam só trovões e a impossibilidade de céu azul. Eu que preservo algo em mim, trancado, detrás de placas de 'afaste-se', mas anseio, muda, que alguém invada o terreno, quebre a grade e descubra o que há dentro. Publicamente, cínica e irônica. Em essência, triste..." (Só os idiotas são felizes)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dois


É fúria e loucura ¨ é transgressão e vida ¨ é instinto e sofreguidão ¨

é desejo e sexo ¨ é tesão e anseio ¨ é angustia e limitação ¨ é

ponto e encontro ¨ é destino e desatino ¨ é luz e sombra ¨ é água e sal ¨ é curva e caminho ¨ é homem e mulher ¨É paixão


lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste missa
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça.
...Entre os ecos do infinito
Eu grito, eu mato a solidão
Eu sou meu tempo, eu vou
A ferro e fogo, eu corro
Eu vou, eu canto e grito: amor!
Eu vou, eu vou, eu canto e grito: amor!
Menos pela cicatriz deixada, uma feridantiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.
As palavras são novas: nascem quando
no ar projetamos em cristais
de macias ou duras ressonâncias.
Somos iguais aos deuses, inventando
na solidão do mundo estes sinais
como pontes que arcam as distâncias.

Rotina


Dia-a-dia vou garimpando pequenas felicidades

Tão bom fôssemos desdatados,

misturando presente e passado,

numa orgia da MEMÓRIA

Detalhes de Mim


O meu olho direito tem um que, que surpreende, é cansado, sempre inclinado

e coitado, olhando bem amiúde parece estar do avesso e não melhora nem pintado.

O esquerdo bem esperto, tira proveito do doente e saliente observa o mundo atentamente.
...A palavra tem o seu terrível limite. Além desse limite é o caos orgânico. Depois do final da palavra começa o grande uivo eterno. Mas para algumas pessoas escolhidas pelo acaso depois da possibilidade da palavra, vem a voz de uma música, a música diz o que eu simplesmente não posso suportar
Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança.
Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização.
o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro

ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos.
...sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade.
Já não temo fantasmas
invoco a todos
que venham em bando
povoar meus dias
atormentar minhas noites
entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me falta
O mundo é pequeno demais. Estou cansada de tocar guitarra, fazer malha, passear, parir crianças. Os homens são pequenos e as paixões são curtas. Irritam-me as escadas, as portas, as paredes, irrita-me o dia-a-dia que interfere na continuidade do êxtase.
(...)Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.
...Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
Sem nos dar braços para os alcançar?!...
Venho de longes mundos
Separam-me distâncias
Trago as madrugadas no meu ventre
E a liberdade das coisas inventadas
num mundo abstraído
em tempo.

Adverso


Sinto o que transcrevo

distinguindo-me entre muitas e quando vencida me perco

Do avesso me leio

lastimando-me os sentires e quando explícitos me envergonho

Alterno momentos

esquecendo-me as dores e quando diferentes me permito

Crua me atrevo

salientando-me finita e quando refletida me orgulho


Sobre o que mesmo eu escrevo?






Podrán cortar todas las flores, pero
no podrán detener la primavera.
sal
de corpo
sal
de lágrimas
gotas cristais
mar-de-água
sem mágoa

Olhos de sal

Busco o gosto bom de qualquer coisa que seque meus olhos de sal.

Poeminha do Contra

Todos estes que aí estão Atravancando o meu caminho, Eles passarão. Eu passarinho!

Eu e o Dia


O dia acordou feliz.

Contagiou-me sua alegria, rimos juntos.

A passarinhada entrou na brincadeira e logo éramos muitos.

Eu e ele estamos bem, muito bem obrigada.

Meu Orgulho


Hoje amanheci realidade.

Hoje faço poesia com a vida sem verso nem rima.

Hoje tomo a liberdade para abrir meu particular, de brincar com coisa séria, de aplaudir grande feito.

Hoje eu aceito abraço, beijo e agradeço.

Hoje respondo aos que perguntam como é ser mãe, com um sorriso maneiro, simples assim, mãe?

- Basta amar e confiar.

Hoje me sinto emocionada, a flor da pele, alegre por direito e de fato.

Hoje me mostro inteira, boa de papo, ouvidos atentos e orgulho estourando o peito.

Hoje divido emoção pelo filho, neurocientista, responsável por colocar o Brasil no honroso quinto lugar, pela descoberta de células-tronco de pluripotência induzida [sem usar embrião] onde até ontem, apenas quatro outros países possuíam linhagens de células iPS [células-tronco de pluripotência induzida, -induced pluripotent stem cells] registradas na literatura científica, Japão, Estados Unidos, China e Alemanha.

Hoje me permito fugir do habitual palavreado para dizer que construí a base de amor mostrando valores do bem, mas é dele o mérito maior, foi ele -ontem menino - que se fez homem dedicado a salvar vidas.

Hoje eu vou tomar um porre de felicidade.







Feliz Ano Novo


Aprendi a desejar o outono nas noites de verão

Aprendi a emoção de cantarolar uma canção inventada

Aprendi a gostar de dias nublados e ver beleza em vento e tempestade

Aprendi a colorir o olhar ao ver a lagoa cor de chumbo

Aprendi a ternura de imaginar meu amor lendo jornal afagado por uma xícara de chá

Aprendi a atender quando chamada Dona Moça, mesmo tendo consciência que a mocidade ficou lá atrás

Aprendi a entender minha letra torta pois é como me assino assumindo identidade

Aprendi que a felicidade custa barato, está no sorriso sincero, no despudor da cumplicidade, no aconchego da completude, na afirmação da simplicidade

Aprendi que não existe solidão quanto se tem memória

Aprendi a confiar no silêncio e aceitar as perdas como se ganhos fossem

Aprendi que ir além é estar nos braços do ser amado e liberdade é o abraço

Aprendi que por mais sábia me ache mais sofrerei de amor

Aprendi a conhecer o nada do outro e absorver o seu tudo de melhor

Aprendi que não sou mar mas tenho olhos de sal

Aprendi que me encantam as palavras e seus significados, que sentir poesia depende do estado de espírito e se manter apaixonado rejuvenesce

Aprendi a crer num Deus e fazer dele meu amigo mais íntimo

Aprendi que saudade aquece a alma, remete sabor de ontem e miniminiza tempo-espaço

Aprendi a manter minha alma livre, meu corpo inteiro, meu coração valente

Aprendi que necessitei de anos para aprender que se pode tudo que desejar, basta pensar forte, amar muito e voar.

Enigma


Perco na minha desordem

O lamento do mistério


Acho nos seus perdidos

Assombramento e segredos


Meus demônios de cara feia

Encaram-me


Desejo bani-los mas não se movem

Temo-os


Receptáculos de mentes

Mentem


Na calada da noite fria ventam temores

Tremo


Vou gerir o silêncio e dormir em paz

Danem-se

Premonição


Uma estrela cadente desabará do céu para iluminar seu caminho

- disse sorrindo a cigana ao ler a minha mão -


Acreditei no seu sorriso, então espero a boa sorte pousar no meu quintal.

Ando sem pressa, não corro para chegar pois a ansiedade me engasga.

Amadureci esperando a colheita e hoje confiante nesse presságio, aguardo a estrela mágica que me resgatará.

Ao sabor do tempo, no calor do sol, no frescor da lua.


Vereda

O corpo treme tesão
os olhos abrem possibilidades
a língua lambe sentidos
a unha arranha instintos
as mãos agarram desejos
a voz grita medo
a boca saliva beijos
o cabelo balança sensualidade
o seio transmite aconchego
a cabeça dispensa razão
o coração acolhe emoção
a pele arrepia sexo
os pés arrastam anseios
os braços sonham abraços
nas costas estrela a brilhar
na memória saudade fazendo gozar
Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.
Ser humano, com toda a miséria e grandeza que isso significa, não é apenas precisar de amparo e consolo, mas também enxergar, abaixo da superfície e atrás das paredes, novas possibilidades de viver e se relacionar.
A vida são deveres que trouxemos para fazer em casa.Quando se vê, já são seis horas...Quando se vê, já é sexta-feira...Quando se vê, passaram-se 60 anos Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Agora é tarde demais para ser reprovado. Se me fosse dado um dia, uma oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida.
Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos.
O amar os outros é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra.
As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto.
Tenho que me apressar, o tempo urge.
Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida.
Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca...
Entre paciência e fama eu quero as duas, pra envelhecer vergada de motivos imito o andar das velhas de cadeiras duras e se me surpreendem, explico cheia de verdade: tô ensaiando.Ninguém acredita e eu ganho uma hora de juventude.

domingo, 25 de outubro de 2009

beata reza
para ter
o céu

eu não
preciso
falo
o caminho
ele me
e_l_e_v_a
Nada é mais vulnerável que nosso desejo. Na luta entre o cérebro e a pele, nunca dá empate. A pele sempre ganha de W.O.
* "Eu" meu, baseado no "Eu" dela

* EU


Eu triste sou casulo
Eu brava sou cega
Eu lúcida sou transparente
Eu gata sou manhosa
Eu cega sou mistério
Eu carente sou naufraga
Eu malandra sou sagaz
Eu seca sou metade
Eu fria sou cruel
Eu quente sou salgada
Eu prosa sou verso
Eu santa sou profanação
Eu salgada sou tesão
Eu pura sou tentação
Eu sentada sou comportada
Eu jovem sou tímida
Eu bela sou atraente
Eu útil sou tantas
Eu à toa sou tua

(...)

Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim Só não se perca ao entrar No meu infinito particular Em alguns instantes Sou pequenina e também gigante Vem, cara, se declara O mundo é portátil Pra quem não tem nada a esconder Olha minha cara É só mistério, não tem segredo Vem cá, não tenha medo A água é potável Daqui você pode beber Só não se perca ao entrar No meu infinito particular.

Sem Medo

Vontade de ser passarinho p’ra no teu colo fazer ninho e não mais precisar voar para algum lugar que não seja aconchego que não tenha cheiro de flor que não saiba cantar o amor e que não escorra da memória o bendito.
A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!
Nossas vidas são frágeis.
E nossos sentimentos são construídos.
A história fica registrada no livro da vida do Universo.
O que fez, está feito, para sempre.

O que fará de agora em diante, é algo que está em tuas mãos...
Mãos trêmulas, incertas? Ou fortes, assertivas?
O equilíbrio se dá através das situações.

Um dia a andorinha canta e voa feliz, forte e dona de si, plaina feliz por toda tua liberdade.
Noutro dia se vê abatida, doente, capturada numa gaiola.
Derrepente um novo ciclo pode se iniciar....
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo.

Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu

Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu

Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou

Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor

Amor é síntese
É uma integração de dados

Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias

Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços

E eu serei perfeito amor.
Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.

A verdade é um labirinto.


Se digo a verdade inteira,
se digo tudo o que penso,
se digo com todas as letras,
com todos os pingos nos is,
seria um deus-nos-acuda,
entraria um sudoeste
pela janela da sala.
Então eu digo a verdade possível,
e o resto guardo
a sete chaves
no meu cofre de silêncios.
"As estrelas procuram horizontes abertos onde se possam espreguiçar e ser camas de luz candeeiros de uma terra escura, onde a noite é cúmplice de cada raio derramado."
"A Amizade não se improvisa, surge como o sol do coração da noite. É como o Amor! Guarda um quê de mistério São como plantas delicadas que devem ser tratadas e cultivadas com todo o carinho."
A beleza das pessoas está na capacidade de amar e de encontrar no próximo a continuidade de seu ser... E, também, em reconhecer que nessa vida você estará sempre precisando de alguém e sempre terá alguém precisando de você.

[Sem] Nexo

... é melhor mesmo continuar escrevendo essas frases curtas, que assim amontoadas ,dão um ar de coisa, coisa pensada, e nem é, sabe? nem é importante...

Tirocínio


No vazio das letras caminho sem palavras...Estou repleta no silêncio que me rende belas páginas em branco.Provo poesia, vivo o concretismo, absorvo sorriso.

Contradança

E essa musica dentro de mim
que não para de tocar?
E essa dependência
que me leva ao seu querer?
E essa fissura
tal qual éter encharcado n’alma?
E essa paixão
que faz coração suar desejo?
E esse apetite de corpo-baile
que faz dançar com coragem?
E esse vazio de tudo
que é [re]cheio de sensações?
E esse meu riso no seu espanto
que é vigor de nós dois?


Surreal definir uma
mulher, não tente,
absorva os sentidos e
lhe faça companhia.

Vicio

Leve-me à sua boca como alimento necessário

, nos seus olhos deixe-me morar como guia
, no seu peito preserve-me como aconchego
, no seu sorriso conserve-me como alegria
, no seu corpo ostente-me como tatuagem
, nos seus dedos dedilhe-me como canção
, no seu desejo tenha-me como inspiração

Carregue-me para onde for até quando nos sentirmos [prazer em nós]
- Prometo-lhe boa companhia.


Atos...

Porque há em mim desejo antes da rotina imposta
durante a carnificina no sentido figurado
e depois do fato consumado

Porque há em mim desejo antes do dia seguinte
durante a encarnada paixão tinturada
e depois do ato lavrado

Porque há em mim desejo antes do gole que queima
durante a fartura da carne fresca
e depois do caso encerrado

Porque há desejo em mim
antes
durante
e depois
do fim


Purificação


Água quente deságua solidão no arrepio da pele / escorre rasgando culpa, ardendo sentenças, fluidificando carências, atropelando sensações / desatinada flagela-se na paixão que não passa, arde e arrasa / o calor veste de vapor o espelho que pinga o coração pelas flechas atravessado / contrição.

Quem sou eu


a culpa não é sua, nem minha.mas serei eu a que irá arder nas chamas,porque bruxos não existem.
Sonhei contigo esta noite. E foi tão doce...Acordei de madrugada, lambendo meu próprio sonho.

[A menina no deserto]

E eu tenho tanto medo da distância que é um centímetro, tempo e silêncio.- É por isso - ele me diz - que eu durmo com o corpo jogado em cima do teu.
Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
Aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.
Sou como você me vê.Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventaniaDepende de quando e como você me vê passar.

Descanso

na bolha,
esperança
num sopro,
espalhada
no sonho,
sonhada
A glória da amizade não é só a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia... É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém se importa com você...

Aprendendo a repartir com os animais...
"O vento é o mesmo: mas a sua resposta é diferente, em cada folha Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros."
O tempo tem suas peculiaridades e perversidades, seguir seu rumo é viver o agora.
Sinto a vida num momento, Como um rio no seu curso. Tantos sonhos, um lamento, O tempo, omisso e intruso.
Realmente... todo grande amor é eterno. Mesmo quando está já guardadinho na eternidade. Ele espera o momento para ser vivido novamente. Ele parte, mas guarda na alma a ânsia do reencontro.
"Grande Amor, é Eterno... Os momentos que nele vivemos, ficam gravadas para sempre em nossa lembrança,..."

"A criança é um por natureza um ser do encantamento, um ser que experimenta a leveza, e que não retém a dor."

Se você fala com os animais eles falarão com você e vocês conhecerão um ao outro. Se não falar com eles você não os conhecerá, e o que você não conhece você temerá. E aquilo que tememos, destruímos.
Ás vezes não entendo o frio que o silêncio traz, me leva a sonhos tão vazios...
Já nem sei mais
De manhã buscando a minha paz, meu desejo vai te procurar
Eu tenho a luz das estrelas na palma da mão
Mas tudo que eu mais quero é o seu coração
Eu posso andar no arco-íris, dar prata ao luar
Mas o céu azul, no azul do mar, quero poder te tocar...

Me pego olhando tão distante, quanto tempo faz
Será que vai ser como antes, já nem sei mais
Amanhã quem sabe eu possa te achar, tanta coisa eu tenho pra falar
Eu tenho a luz das estrelas na palma da mão
Mas tudo que eu mais quero é o seu coração
Eu posso andar no arco-íris, dar prata ao luar
Mas o céu azul, no azul do mar, quero poder te tocar...
Vale a pena viver a vida, já que a vida não é tudo que ela pode nos dar; Mas sim tudo o que podemos dar por ela. Vale a pena acreditar em si mesmo. Vale a pena confiar em seu reservatório interior. Vale a pena fazer o seu próprio destino. Vale a pena marcar a presença no mundo a sua volta e principalmente no mundo de dentro de você.

Equilíbrio

Dá-me a mão, acredita em mim, e entra no meu mundo, num mundo onde as cores se misturam, onde as ideias e os sonhos passeiam livremente. Entra e vê o que eu sou, como eu simplesmente sou. Entra e vem ver, a paz e calma que o meu mundo nos oferece. No meu mundo eu não tenho medo, no meu mundo eu sou capaz de tudo, capaz de voar sem por algum momento ter medo de cair, sou capaz de sonhar, amar, viver...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Até quando?


- Só mais um pouco de paciência!

O anjo me pede.

Faz tempo que tenho paciência.

Aliás, é o que mais tenho.

Até quando?

Até quando...

Os caminhos


Não existe caminho certo,

Nem existe caminho errado.

Na verdade, não existe caminho...


O caminho surge após os seus passos...

Complexado


Quando eu era pequeno,

Vivia como menino.

Cresci, virei Peter Pan,

E não mudei nada...

– Filosofando no mar


Penso! Logo existo!

Pesco! Eu realmente existo...

Descoberta


O que sou?

O que procuro?

Espero nunca descobrir...

UM QUASE NINGUÉM


Sinto-me invisível.

Onde quer que eu vá

Ninguém me nota...


Às vezes

Olho-me no espelho

E nada vejo...


Sou um quase nada.

Um quase ninguém...

CADEIRA DE RODAS


Já subi montanhas

Já pulei precipícios

Já andei pelas praias...


Hoje?

Estou sentado à beira do caminho

Esperando alguma coisa

Que nem imagino o que seja...


Estou em cadeira de rodas...

Toque apenas as pausas


Hoje quero o silêncio,

Preciso de paz.

Não quero a música

Deixe as notas...


- Toque apenas as pausas...