sábado, 31 de outubro de 2009

Sobre mãos e asas


Ela era o tipo de pessoa que sempre quis segurar um passarinho. Toda vez que algum se aproximava, ela - sem saber porquê - o espantava. Era quase involuntário. Talvez fosse vontade de saber em que velocidade ele fugiria, saber qual o efeito que seu movimento causaria nele. Talvez fosse medo que ele chegasse perto demais e fosse embora por vontade própria. Ou conseguir segurá-lo entre os dedos e sufocá-lo com a força que fazia para que ele não fugisse. O fato é que ela sabia que não poderia segurar o passarinho para sempre. Jamais cogitou gaoilas - ora, passarinhos nasceram para voar! Mas e se ele resolvesse ficar? E se sentisse que suas mãos eram um ninho? E se ele cantasse todas as manhãs só para vê-la sorrir, saísse para caçar umas minhocas e voltasse todos os dias? Ela se sentiria responsável por ele, o esperaria voltar. Teria medo que não voltasse. O problema era que, por trás do ato impulsivo e involuntário de espantar o passarinho, havia todos estes medos. Todas as remotas possibilidades. E se ele não voltasse? E se ela se encantasse com o cantar de outra ave? E se ele se encantasse com o cantar de outra ave? Ele continuava pulando na direção da garota, e então ela pensou que, talvez, se ficasse muito quieta, ele pudesse confundi-la com algum elemento do seu hábitat, como uma árvore, e pousasse em seu ombro. Mas o que isso mudaria, afinal? Que importava que suas mãos fossem capazes de se fechar ao redor do corpo inteiro do pássaro, mesmo que ele não pudesse diferenciá-las de galhos? Ela sabia não poder criar raízes...
Mais fácil criar asas e voar com ele. Se fosse possível.


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