quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Hora Errada.

Ela o olhou nos olhos e desviou. Quis dizer que o amava também, mas sabia que amava todo o resto um pouco mais. Foi confuso, no início, estar na posição de pessoa amada em uma relação unilateral. Mas ela deu um jeito. Decidiu que não corresponder também doía. Porque perdera a chance de amar, talvez? Ou porque a dor do outro a atingia? Tanto faz. O importante é que doía e, tão cedo ela aprendera a conviver com a dor, que tornaram-se companheiras - ela precisava sofrer para manter-se. Não sabia se era capaz de se sustentar sem lamentar e conformar-se com algo, porque nunca havia tentado. Não sabia se havia fichas a serem apostadas. Desviou o pensamento da dor recém criada - e com a qual já se havia conformado -, resolveu voltar aonde estava. Pensou em dizer que era tarde demais, que ela quase o havia amado também, que eles andavam em passos diferentes, essas coisas. Não teve coragem. Pensou em outras explicações para o que não se explica, uma pior do que a outra, e, não sabendo o que fazer, teve a pior reação possível: ela riu. Um riso nervoso, como se fosse algum tipo novo de piada, uma dessas de humor negro, que nos faz rir sentindo culpa... uma risada para quebrar o silêncio - que acabou quebrando algo mais.

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