quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Castelo em ruínas

Ela chorou sentada sobre os escombros do que um dia foi. Os olhos ardiam como se o pó enraizasse na nascente do rio salgado que escorria, descontrolado. Os mesmos olhos que brilhavam furtacor-beija-flor-bolha-de-sabão hoje sustentavam o brilho branco-leitoso, opaco, quase fosco da perda do que não volta, do que já não se tinha. Mas a lembrança triste despencara sobre as alegres-inocentes-infantis com a mesma força com que a parede despencara sobre a grama seca já sem rosas, já sem latidos, já sem ameixas, já sem hibiscos. Ficou só espinho, só sobrou caroço. Osso. O esqueleto de uma vida sem carne, sem sangue. A cartilagem consumida pela terra, aquela que ligava e mantinha o organismo funcionando. Peças separadas, sem encaixe, cada uma sendo devorada por um verme diferente. Sem pulso. Sem vida.

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