sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lucidez silenciosa.

Apagou as luzes. Primeiro a da luminária, depois a do abajur.
Permaneceu ali, deitada, as mãos cruzadas sobre o peito, os olhos revirando-se inquietos sob as pálpebras cerradas.
Imaginou-os como bolas de plástico boiando em uma piscina.
A piscina eram as lágrimas.
Riu enquanto chorava, de si mesma e da capacidade de pensar tais desvarios.
As lágrimas ensoparam o travesseiro.
Incomodada, trocou o travesseiro.
Sentia-se esmaecer.
Chorar deixava-a invariavelmente esgotada, exaurida.
Depois de choradas as decepções, lembrou-se da consulta no dentista marcada para a manhã seguinte, os livros a retornar na biblioteca, o cartão a enviar, a entrevista a comparecer.
E se o mundo acabasse agora, pensava, não teria feito nem a metade do que desejava.
Não por impossibilidade, mas por ausência de coragem.
E se fosse aquele o dia em que seus olhos irrequietos se fechassem para a vida,
quem dera soubesse que espécie de fraude, imbele e covarde, teria sido.
Não saberia dizer.
Não soube.
Adormeceu antes que pudesse perceber o travesseiro molhado que as lágrimas haviam encharcado outra vez.

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