sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Intoxicação sentimental alimentar.


Quando sonho sempre me vem um gosto. 
Não de amor, menta ou saudade. 
Sabor acre, enjôo, dor pungente de estômago vazio, 
não me alimento das lembranças, não me satisfaço mais de você.

Quando muito, uma ninharia agridoce de rancor me ataca, 
o amargo se torna forte, o melífluo não chega a lugar algum.

Como se fosse fruta verde, a língua reconhece, distingue, 
arrebata no apertar da boca, o ranger dos dentes, 
travamento completo da mandíbula, endurecimento do coração.

Quando sonho com você não há lugar para o surreal, 
não possuo asas, borboletas não se transformam em dragão. 
Apenas a realidade dominando o onírico, eu de um lado, 
você do outro, quando queremos muito mudamos de calçada
é pedida a permissão, sem o atrevimento da palavra 
a própria presença estabelece o cumprimento, determina a distância.

Na fabricação do litígio entre estranhos conhecidos, 
o olhar preso por três segundos é intimidade desnecessária, 
proximidade a ser ignorada.

Quando sonho com você desenvolvo ânsias precárias, refluxos eufóricos, 
vomito as palavras-resíduos que me forçou a engolir. 

Felicidade Clandestina.

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