"Este texto não tem um porque, não tem uma intenção quando foi escrito, nasceu de quando abri a porta de minha casa, e resolveu se escrever"
Via-Lunares
Ele me disse que vinha, então fui caminhando para a cozinha, abri a cortina branca, e deixei que a luz entrasse, destranquei a porta e não, não cheguei a abri-la ele que teria que ter a coragem de fazer isso. Eu apenas o esperaria, e nada mais ele teria de mim até ter a ousadia que abrir aquela porta, minha espera.
Ele morava longe, então a minha espera seria longa. Inquieta andava pela sala, saia pela sacada para ver a lua, ouvia uma suave valsa na vitrola que tocava um velho disco de vinil, não ao certo o que eu esperava, mas esperava, não deveria eu fazer algo? Não sei bem ao certo.
Sai pela sacada, estava eu com roupa de dormir, e não me importava se alguem me visse, eu queria ver a lua, e fui vê-la. Olhei tão diretamente a ela que quando percebi estava de olhos fechados, mas ainda a via, nos meus sonhos sempre haverá uma lua, ela me faz bem, então comecei a caminhar sob a Lua, sob as estrelas, sob as notas que indicavam meu caminho, vagava pela noite como se voasse, como se estivesse liberta.
Uma nota estranha sou, acordei de ressalto e percebi não estava em casa, eu estava perdida e não achava mais o caminho para meu lar, e tudo estava escuro, era noite. Entrei em desespero e me encolhi em um beco a chorar, tudo ao redor me amedrontava, e me tornava cada vez menor ao me encolher.
Quando vi, um grande vulto se aproximava de mim, e eu aterrorizada não pude me mover, a sua sombra me encobria, envolvia, então pude sentir seus braços a me envolver, a me abraçar, e a sentir seu coração pulsar fortemente, e o meu disparado de medo se acalmava até chegar ao mesmo ritmo do dele. Ele disse:
- Me perdi no caminho, não sabia o que faria eu ao te ver, então caminhei sem rumo para pensar e ver onde minhas pernas me levariam, e de deixaram aqui.
Seu labio beijava minha fronte, meu pescoço, minhas mãos, eu chorava de medo, ele, simplesmente chorava, sorrindo por ter me encontrado, e um misto de medo e alegria me envolviam, aquele lugar continuava a ser escuro apesar dos braços familiares. Ele levantou-se e me ajudou a ficar ereta, e foi me levando, e ao contrario que eu imaginava ele começou a me levar para um caminho distinto das duas casas.
E fiquei quieta, resolvi abandonar meus passos aos seus, me senti insegura, pois os seus passos pareciam confusos, não tinham rumo certo, não tinham um destino, uma chegada.
- Para onde estamos indo?
- Eu não sei, estou apenas procurando o caminho mais iluminado, para se opor a escuridão que estavas.
- Mas eu estava em busca da Lua antes de me encontrar naquele lugar.
Ele olhou para o céu, olhou o caminho que haviamos feito, e disse:
- Acho que tambem estamos. Estamos no nosso singelo caminho docemente iluminado, pela Lua.
Marcos Medeiros Raimundo.