Enganam-se os que acreditam que a humanidade está em busca de salvação, ela
sempre esteve em busca da perdição e todas as crenças do mundo não se resumem
senão em encontrar uma religião que concretize estes rancores absurdos. Agora já
não era para os outros, mas, apenas para mim que ele estava tocando. Em uma
coreografia de suores e salivas, desejoso de ser, meu corpo respondia a cada
toque e vibração do arco. Sinto calafrios toda vez que imagino aquele homem nu,
cercado de misteriosos violinos, sob o clarão apocalíptico dos tratados de
regência e circunspecção diante dos meus olhos estáticos. Sonhei que caminhava
sobre brasas segurando nas mãos o cetro da paixão com sua chama medonha. Entre
um silêncio e outro a música toca. Há muita memória sem
palavras.
Lídia Martins
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