quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Amor é um Lugar Estranho

O amor é um lugar estranho e por isso costumávamos encontrar-nos em aeroportos
E costumávamos falar do quão agradável era aquele sol ou aquela paisagem, porque acreditem, eram mesmo
E costumávamos comer sushi às sextas-feiras à noite
E costumávamos sentar-nos em bancos de jardim, é cliché mas sabia bem
E costumávamos abraçar-nos nas estações de comboio
E costumávamos esperar muito um pelo outro
Eu costumava gostar de arte moderna e tu dos clássicos
Eu costumava orientar o meu calendário pelos fins-de-semana fora
Eu costumava receber os teus postais atrasadíssimos
E costumávamos comer algodão doce, bem, eu costumava
E costumávamos dar pouco as mãos
Eu costumava ser ansioso e idealista e ter saudades do futuro
Eu costumava ser muito chato
Eu costumava pensar que já não escrevia poesia, mas depois até escrevi
Eu já começava a me acostumar
Eu costumava achar que gostar assim não era costume há algum tempo
E costumávamos pensar muitas coisas igual
Eu costumava ser de esquerda e tu de direita, mas pouco interessava
Eu costumava conduzir muito para te ver e rezava para o motor se aguentar
Eu costumava saber pouco latim e afinal sempre me fiquei pelo ceteris paribus
E costumávamos rir dos meus DVD’s com embalagem ainda por abrir
E costumávamos jantar fora e ver a lua
E costumávamos ver concertos de música clássica em noites quentes
Eu costumava aprovar os teus brincos
Eu costumava aprovar o teu vestido, mas só depois de duas voltas e de te agarrar
Eu costumava acalmar o teu perfeccionismo
Eu costumava ter orgulho em ti
E costumávamos elogiar-nos como por exemplo “és uma grande mulher, sabes?”
E costumávamos fazer tantos planos de sítios a visitar que merecíamos no mínimo sete vidas para os completar
Eu costumava parar muito tempo em frente a quadros
Eu costumava ouvir músicas tristes e tu alegres
Eu costumava ouvir música alta e tu pedias para baixar
E costumávamos não ficar aborrecidos porque afinal de contas iríamos lá voltar outra vez
Eu acostumava-me facilmente em oferecer-te flores de 3 em 3 meses, mas não houve tempo
Eu costumava ser impulsivo, apaixonado e temperamental
Eu costumava deixar-te bilhetes quando ia para o trabalho e ficavas na minha cama
Eu costumava assinar os bilhetes com “o teu, Tiago.”
E costumávamos pensar que dois meses pareciam já dois anos
E costumávamos sorrir com o pensamento anterior
Eu costumava acordar primeiro e depois só me apetecia agarrar-te, isso aborrecia-te
E costumávamos ter força para continuar apesar das contrariedades
E costumávamos falar todos os dias, religiosamente
Eu acostumei-me a fazer coisas que não fazia, e sabia bem
E costumávamos tirar fotos a nós dois, não saiam muito bem
Eu costumava perguntar-me como o Jorge Palma “será que ainda cá estamos no fim do Verão?”
Eu costumava torcer para que viesses no comboio mais cedo de todos
E costumávamos discutir, bom, foram só umas duas vezes
E costumávamos comentar que o tempo juntos passava assustadoramente rápido
Eu costumava ter medo que te esquecesses de mim quando fosses para longe, mas suponho que isso é normal
E era costume mandarmos e-mail de bom dia
Eu costumava chamar-te moreninha
E costumávamos achar uma sorte termo-nos conhecido
E costumávamos, mas agora não
Porque o amor é um lugar estranho e nós esquecemo-nos do caminho.


Cachecol do pintor

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