Embora algumas pessoas questionem, eu conheço bem a gordinha do ensino fundamental. Aquela menina que comida escondida e sentia um remorso do tamanho do estômago depois, ao notarem a falta dos biscoitos, leite condensado ou chocolate. Que comparava roupa do tamanho menor para se sentir mais magra mas, com o efeito visual devastador, fazia parecer ainda mais graúda. Ouvia apelidos nada carinhosos, todos deixando em "larga" evidência a grandeza de bumbum, seios, coxas, mas também barriga, braços e rosto. Sempre muito bonito. Cabelos enaltecidos, o colo, como é bonito! Até mesmo o pé. Nunca uma dessas partes que quisesse dizer sensualidade, que fosse sinônimo de mulher bonita de verdade, dessas de capa de revista de dieta.
Adolescência sofrível, um trauma praticamente eterno. De franja, espinhas e um desengonço que só se ajeitou com o saudoso tempo. Embora hoje use manequim 38, seja considerada uma pessoa magra de saudável, olho no espelho e vejo aquela jovenzinha imatura, que chegava da escola e ia correndo chorar a tarde inteiro porque ou as roupas não cabiam, ou toda calça jeans ficava horrorosa, ou mais uma vez ouvira alguma maldade ferina tendo como mote o sobrepeso que os 1.68 carregavam. Segundo a cultura atual, ou se é magro, ou mesmo com os hormônios à flor da pele, se pertence à classe de pessoas que não merecem a felicidade. Os padrões de beleza só faltam nos cercar, de tão rígidos. E ser uma teenager "gorda" foi um pouco aprendizado, mas hoje é muito também um complexo. Sonhadora com os bonitões do colégio, a admiração que as amigas mais bonitas conquistavam e falar sem ser julgada por uma coisa ou outra de tão superficial.
Enfim. Hoje, a vida é outra. Caras que me zoavam já cansaram de pedir uma chance. "Amigas" que falavam mal nas costas, a elogiar a minha (atual) boa forma. Ou outras, inimigas de longa data, a invejar a perda dos quilos a mais. Mas meu recado é pra vocês, que tiram as gurias que, por culpa de algum medicamento, muita comida ou mesmo a bomba hormonal que são os djovens são gordinhas: feio se é pra sempre, gordo sempre tem a alternativa do emagrecimento. Querer é um primeiro passo. Se esforçar pra manter, o mais difícil. Agora, o sabor de vestir o número dos sonhos, impagável - embora, vez ou outra, o traumatismo de uns anos atrás e os apelidos do passado assombrem, sim. O jeito é acreditar nos elogios e manter acesa aqueles sonhos tão bonitos de quando ainda se sabia tão pouco sobre a vida e as pessoas e o mundo não parecia um lugar tão frio à noite e filmes e livros eram quase que confessos amigos. Um segredo: ainda são.
Camila Paier
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