Sabem o que é um Déjà vu? Aquela sensação em que afirmamos com toda a certeza já ter presenciado determinada experiência ou que nos convencemos que conhecemos determinada pessoa apenas pelo primeiro olhar?
Bem, a história que tenho para contar é baseada num Déjà vu.
Tudo começou quando eu, entediado com a vida de estroina e boémio que levo, decidi dar um passeio junto à praia, num belo e solarengo dia de Verão, quando subitamente cruzei o meu olhar com uma bela mulher. Uma mulher com um sorriso lindíssimo que transmitia uma alegria enorme pela vida e de uma beleza fantástica acentuada pelo contraste com a paisagem preenchida pela pouca luz do sol no final de tarde e pela subida da maré onde as ondas eram como uma sinfonia perfeita que tocava no meu coração e onde o som das gaivotas era como o solo de uma música indígena que me fazia antever o futuro brilhante que tinha ao lado daquela desconhecida.
Sem uma única palavra aproximei-me e dei-lhe a mão. Ela olhou-me e mexeu os lábios para dizer algo, até que eu disse: “Não digas nada, eu sei, também senti o mesmo!”. Então, num movimento lento e calmo, aproximei-me dela e ficamos envolvidos num beijo longo e profundo como se o mundo fosse terminar dentro de momentos e todos os nossos sonhos suprimidos pela vontade do criador e da natureza irada.
Era bom que a vida fosse como este cliché, não era? A verdade é que isto é horrível e, todo este processo de adoração também.
Não existe como romantizar algo tão complexo, dramático e complicado. É como descrever uma doença de uma forma fantástica, incrível, magnífica e positiva. Apenas… não é possível.
Contudo, a verdade é que esse Déjà vu existiu… Mas, desta vez, foi diferente.
As personagens são as mesmas, eu e essa bela mulher. Também é verdade que quando cruzei os meus olhos com os dela consegui ver a sua alma e personalidade completamente despidas. Senti que já a conhecia…. Que talvez noutro tempo, noutro local, noutra cidade, teria amado essa mulher. Bastaram os segundos em que a olhei para sentir que conseguiria pintar um quadro do seu rosto e de todas as suas perfeitas imperfeições ao detalhe do mais exímio pintor.
Quando lhe toquei ao de leve no ombro para lhe fazer uma pergunta tão casual como o nome senti uma ligação e, por momentos a minha mão ficou presa no seu ombro e parecia que, quanto mais tempo lhe tocava mais eram as recordações que tinha dela. Obviamente que todas essas recordações eram vazias, mas, não eram ocas. Pelo menos para mim, tinham algum significado.
Não irei entrar em detalhes científicos sobre esse tipo de acontecimentos ou debater esse assunto. Apenas senti e não quero dar justificações ou convencer-me que nada disso existe, porque, isso seria como tirar a cor a uma casa que nunca foi pintada.
Claro que, como não estou a descrever ficção, esse momento terminou.
Ela saiu, foi-se embora, mas aquele momento em que ela se levantou e encostou a porta foi bastante simbólico. Quase como quando acordamos lentamente de um sonho e, fechamos os olhos na esperança de voltar a essa realidade até que, progressivamente, o sonho desvanece e com ele todo esse espaço é engolido para um fosso enorme onde apenas irá figurar o vazio e uma possível memória que se desintegra com o tempo.
Além disso, penso que nunca mais a irei ver e, também a possibilidade de voltar a falar com ela é bastante remota.
Sou da opinião de que existem coisas na vida que não se encontram ao nosso alcance e, que não basta querer. Não podemos quebrar regras e seguir a nossa intuição quando isso implica consequências negativas para o nosso meio.
Simplesmente, não basta.
Carlos Leite
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