sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Banho de liberdade

O que eu desejava, de fato hoje? Coisas simples. Pense no sabor que tem o contato da água fria com sua pele fervendo. A água seria algo comum, não fosse sua necessidade, sua urgência, que, naquele momento, deixa de ser física e passa a ser muito mais que isso... Algo tão subjetivo e bom, que perde até a mesmo a necessidade de ter um nome. Você só sente. E sentir no momento se torna tudo. A partir desse ponto, não é mais simples, ela não é mais água, quiçá vapor ou outra coisa qualquer. É seu alento . Ainda mais, meu amigo, se você mora no Rio ou em São Paulo no dia mais quente do ano, até agora.
Agora, que acho que já entenderam onde desejo chegar, lá vai... Hoje eu desejava me abrir. Nada específico... Nada com outros propósitos, que não fosse, o de deixar-me indefesa, acessível, nada que não fosse confiar, acreditar; nos outros e em mim. Tanto faz... Acreditar. Presentear-me com o luxo reconfortante de relaxar cada músculo, de soltar as cargas, as preocupações, de poder sentir; sofrer ou não. Sem pausas, sem que aos meus ouvidos chegasse a seguinte voz:“ Não, daí você não passa se não vai se ferir, e feio!”.

Eu, que tenho o estranho dom de construir conversas internas com vários personagens, deveria, com toda a certeza, me dar o direito de tirar férias. De dizer em alto e bom som para que todas essas ladainhas, que esse incautos defensores fiéis,de mim mesma se calassem. Eu gritaria aos quatro, cinco, seis ventos: “Calados, seus danados! Hoje, serei apenas frágil! Vou abandonar conceitos, preconceitos, cuidados, amarras, aprendizados, vou abandonar o passado; vou despir-me do meu raciocínio lotado de cuidados. Afinal, se estou na chuva é pra senti-la”.
Nesse momento, por incrível que pareça, uma tempestade começa a cair na minha cidade. E, agora que o calor vai passando, eu só consigo pensar o quanto gostaria de sorver cada gota da única liberdade que me falta. Afinal, como boa carioca, acostumada com o calor, eu sei muito bem o valor que tem essas gotas revigorantes. Hoje um banho de chuva é pouco. Eu quero um banho de liberdade.

Juliana Dos Anjos

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