sábado, 2 de janeiro de 2010

Paisagem Noturna




A sombra imensa , a noite infinita enche o vale...

E lá do fundo vem a voz

Humilde e lamentosa

Dos pássaros da treva. Em nós

__Em noss´alma criminosa

O pavor se insinua...

Um carneiro balé.

Ouvem-se pios funerais

Um como grande e doloroso arquejo

Corta a amplidão q a amplidão continua...

E cadentes, metálicos, pontuais,

Os tonoeiros do brejo,

__Os vigias da noite silenciosa,

Malham nos aguaçais.


Pouco a pouco, porém, a muralha da treva

Vai perdendo a espessura e em breve se adelgaça

Como um diáfano crepe, atrás do qual se aleva

A sombria massa

Das serranias.


O plenilúnio via romper... Já da penumbra

Lentamente reslumbra

A paisagem de grandes árvores dormentes.

E cambiantes sutis, tonalidades fugidias,

Tintas deliquescentes

Mancham para o levante as nuvens longorosas.


Enfim, cheia, serena, pura,

Como uma hóstia de luz erguida no horizonte,

Fazendo levantar a fronte

Dos poetas e das almas amorosas,

Dissipando o temor nas consciências medrosas

E frustrando a emboscada a espiar na noite escura,

__ A lua

Assoma à crista da montanha.

Em sua luz se banha

A solidão cheia de vozes q segredam...


Em voluptuoso espreguiçar de forma nua

As névoas enveredam

No vale. São como alvas, longas charpas

Suspensas no ar ao longe das escarpas.

Lembram os rebanhos de carneiros

Quando,

Fugindo ao sol a pino,

Buscam oitões, adros hospitaleiros

E lá quedam tranquilos ruminando...

Assim a névoa azul paira sonhando...

As estrelas sorriem de escutar

As baladas atrozes

Dos sapos.


E o luar úmido... fino...

Amávico... tutelar...

Anima e transfigura a solidão cheia de vozes










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