domingo, 1 de novembro de 2009

Pois é

O pensamento calou, assim, de repente. Logo o dela. Ela, que sempre se alimentou deles como um carro se alimenta do combustível. E, de repente, o clichê pareceu novo, como deve ser. Como deve ser, as palavras tornaram-se ineficientes, insuficientes, como costumam ser diante de algo maior. Não importava mais depois de amanhã. Pela primeira vez. Ela gostava de primeiras vezes, e de todas as vezes que parecem primeira. Era só que parecia tão certo sentir o coração dele batendo tão perto e tão forte que ela chegou a achar que era o dela, tão doce, tão desesperado que, em outros tempos, ela poderia achar que fossem um só. E o que é o tempo quando se compreende que ele só leva embora o que não foi escrito? Que o sentimento gera o ato que ecoa perpétuo no existir das coisas etéreas e divinas? O que é o medo quando está certo o agora? Eu levo comigo, e a certeza conforta tanto quanto o abraço. Realmente não importa o depois de amanhã, mesmo sabendo que ele vem, o desgraçado. Faço-me barreira para seus obstáculos, problema dele. Pode tentar levar o sorriso, a respiração, pode tentar lavar a minha cara. Sem sucesso. Porque agora eu sei - o tempo me disse - que eu consigo o que eu quero. E eu sei o que eu quero. Inédito. A fuga do clichê? Que importa? Encontrei um algo importante que apaga a importância do resto, e todo o mundo sabe que resto é resto, virou lixo porque a gente não quer mais. Vez ou duas eu pensei que quase sempre a intensidade das coisas é inversamente proporcional ao tempo que elas duram, e então percebi que o depois segue o amanhã, que é mutável. Não faz sentido, que bom. Seja como for, dure (ou não dure) o que durar.

Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
Avisa que é de se entregar o viver

Pois é, até
Onde o destino não previu
Sem mais, atrás vou até onde eu conseguir
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário