...não dormia sem o escuro absoluto, doíam-lhe os olhos de ter visto cidades, de ter esquecido gente, do frio do vidro nas palavras. Demorava tanto a entender o mundo que agora não dormia de muita luz que as coisas tinham antes sequer de serem suas. Trabalhava-se tanto nesse lugar onde vivia com outros como ela que às vezes pensava: tão estranho nascer (quer dizer, nascer mesmo, estar aqui) para o dia passado com estranhos.E por isso, no princípio, não dormia sem procurar o amor, sem beijar na testa a noite que acabava serena e exausta como a noite.
No princípio era.
Depois esvaziou-se com cuidado.
[Filipa Leal]
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