Me diz, me diz como eu arrumo essa bagunça aqui dentro de mim? Me diz, me explica, deixa eu entender, como é que eu posso concertar esse meu jeito, todo errado? As vezes me assusto com toda essa minha desordem, tanta coisa fora do lugar. Me diz como eu organizo essas minhas inconstâncias internas? Me diz como eu ponho em ordem toda essa desarrumação? Eu preciso mudar as coisas de lugar, as posições, preciso espantar a poeira debaixo do tapete. O que me incomoda é toda essa minha falta de ar quando penso que vou ter de substituir meus pertences. Isso tá me atormentando, me machucando. Como se cada móvel empoeirado neste cômodo me sussurrasse pensamentos que eu prefiro ignorar. Um canto aparentemente imundo. Não por causa de sujeira, o que havia ali era só uma poeira fina trazida da estrada. Era imundo pelo abandono, por ninguém se importar com lá, comigo. Lá ninguém passa, ninguém quer passar mesmo. O silêncio me assusta, ele grita, ele berra, ele diz tudo, sem querer dizer nada. Isso me incomoda. Eu vou remoer todas as caixas, abrir de gaveta em gaveta, revistar folha por folha dos meus livros velhos, pra ver se encontro esse meu problema. Essa minha falta de segurança em si. Essa minha carência por atenção. Esse meu jeito errado de ver o lado certo. Eu quero o equilíbrio, o concreto, o certo, eu quero poder esquecer esse mar de memórias dentro de mim. Eu sou a escuridão, no meio da luz, eu sou o silêncio, no meio de tanto barulho. Eu sou um oceano, e é fácil se afogar aqui. Eu já desconheço o meu sorriso, já que há tempos não vejo em meu rosto. Eu, estou, agora, completamente vazia. Sem sentimentos na pele, sem sonhos, apenas o corpo aqui, eu vou deixar a chuva lá fora, levar toda essa minha dor, todas essas memórias, toda essa minha nostalgia, e ela levou, levou tudo embora, tudo. A bagunça continuou aqui dentro, mas levou boa parte dela, e eu, tô tentando arrumá-la. Vou tentar deitar, dormir, relaxar, pensar um pouco menos, deixar de sentir um pouco mais. Vou reorganizar, renovar, sentir o gosto sólido do gelo em minha garganta, que a chuva tornou assim.
Amanda Soares
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