Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campossem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
[Albano Martins -Escrito a vermelho]
Não me preocupo em entender,vivo e ultrapasso qualquer entendimento.Sou simplismente eu msm,complicada e infinitamente cheia de defeitos...Msm assim não posso deixar de acreditar em mim!!!
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
E a Flor é apenas Flor...
Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparoQue as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
E pela primeira vez no Universo eu reparoQue as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas a borboleta
E a flor é apenas flor.
[Alberto Caeiro]
Maktub
Já estava escrito
No tempo e espaço
Que minha alma e a tua uma luz seriamJá estava escrito
Pelos milênios
Que no sagrado fogo da paixão nos consumiríamos
Sol do deserto queimando a areia
Tua presença é água
Que preserva a vida
Pomba selvagem no azul da
Alma
Teu olhar é luz que ilumina e cega
Já estava escrito e Allah o sabe
Que a serpente mágica do amor nos faria deuses
Está escrito
Antes dos tempos
Que a vida vale a pena quando o amor nos toca.
Se tu fosses água
Ai. Que o meu céu seria beber-te se tu fosses água. E todas as folhas de todas as árvores de nomes impronunciáveis, plantadas algures em cidades imaginárias, seriam a sombra dos dias que me saciam a fome de uma existência onde sou banal e carnal.
[Paulo Ferreira]
[Paulo Ferreira]
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Das tuas ancas aos teus pés quero fazer uma longa viagem.
Sou mais pequeno que um insecto.
Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centímetros queimados,
pálidas perspectivas.
Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!
Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiralou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.
Para teus pés resvalo,
para as oito aberturasdos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto o teu contorno
de vaso escaldante!
[Pablo Neruda - os versos do capitão]
Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centímetros queimados,
pálidas perspectivas.
Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!
Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiralou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.
Para teus pés resvalo,
para as oito aberturasdos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto o teu contorno
de vaso escaldante!
[Pablo Neruda - os versos do capitão]
Só pra refletir...
É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar.
[Jean Jacques Rousseau]
[Jean Jacques Rousseau]
Perdão
Os fracos nunca conseguem perdoar. O perdão é um atributo dos fortes...
Alivia e refresca a alma, inunda de paz o coração e faz o corpo levitar.
Nem sempre me incendeiam
o acordar das ervas e a estrela despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
[Herberto Helder]
- Porém, tu sempre me incendeias.
[Herberto Helder]
Quando não conseguimos dizer...
Há perguntas a que só nós mesmos
podemos responderE não existem respostas certas ou erradas
Apenas respostas
Sabemos que assim é
quando ficamos calados
As perguntas à espera
de respostas
E nós à espera
de palavras que digam
o que não conseguimos dizer
[Luís Ene]
podemos responderE não existem respostas certas ou erradas
Apenas respostas
Sabemos que assim é
quando ficamos calados
As perguntas à espera
de respostas
E nós à espera
de palavras que digam
o que não conseguimos dizer
[Luís Ene]
Em tudo te vês
Em tudo o que vês, é a ti que vês.E tudo o que vês diz-te quem tu és.
O teu olhar encerra-te.O teu olhar contém-te.O teu olhar liberta-te.
Em tudo te vês, em nada tu és.
[Luís Ene]
O teu olhar encerra-te.O teu olhar contém-te.O teu olhar liberta-te.
Em tudo te vês, em nada tu és.
[Luís Ene]
Nosso amor
mais do que um sonho: comoção!sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
e recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
[David Mourão Ferreira]
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
e recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
[David Mourão Ferreira]
Olho com olhos de não ver
Olho
com olhos de
não ver
e vejo
o que só assim
posso ver
depois fecho
os olhos e
continuo
a ver o que
só assim pode
ser visto
e sei então
o que já antes
sabia
ver é sempre
uma forma de
cegueira
[Luís Ene]
com olhos de
não ver
e vejo
o que só assim
posso ver
depois fecho
os olhos e
continuo
a ver o que
só assim pode
ser visto
e sei então
o que já antes
sabia
ver é sempre
uma forma de
cegueira
[Luís Ene]
Há algum limite para isso?
Absolutamente não. Nós somos seres ilimitados. Nós não temos limites. As capacidades, os talentos, os dons e o poder que está dentro de cada indivíduo nesse planeta é ilimitado.
restavam somente coisas em que não queria pensar.Bem que eu gostaria de chorar um pouco, mas não podia, porque não havia motivo algum para isso.
(...) então paro na calçada, virando as costas a uma loja grande, olho as pessoas entraram e saírem e penso que as que saem deveriam ficar lá dentro e que as que entram deveriam ficar de fora, isso economizaria um bocado de cansaço e movimentos.
[Agota Kristof]
(...) então paro na calçada, virando as costas a uma loja grande, olho as pessoas entraram e saírem e penso que as que saem deveriam ficar lá dentro e que as que entram deveriam ficar de fora, isso economizaria um bocado de cansaço e movimentos.
[Agota Kristof]
É assim o mar
Vou aprendendo com as ondas
a desfazer-me em espuma. Há sempre uma gaivota
que grita quando estou perto, sempre uma asa
entre o céu e o chão da casa. Mas nada me pertence,
nem as palavras com que cimento as horas.
Talvez o amor seja uma pequena diferença entre fusos
horários (...) que só existe
no fundo da pele. Mas aqui onde não sou
o que me funda é a certeza que existes.
[Rosa Alice Branco]
a desfazer-me em espuma. Há sempre uma gaivota
que grita quando estou perto, sempre uma asa
entre o céu e o chão da casa. Mas nada me pertence,
nem as palavras com que cimento as horas.
Talvez o amor seja uma pequena diferença entre fusos
horários (...) que só existe
no fundo da pele. Mas aqui onde não sou
o que me funda é a certeza que existes.
[Rosa Alice Branco]
Começa-se o silêncio a desenhar.
nos interstícios da carne, a que se prendem
imagens que no fogo
lento da memória se apuraram
de dia para dia e que o passado
nos serve agora como iguaria.
[Luís Miguel Nava]
imagens que no fogo
lento da memória se apuraram
de dia para dia e que o passado
nos serve agora como iguaria.
[Luís Miguel Nava]
Quando retiramos palavras da rua dentro da janela fica a cidade
onde não fizemos senão esconder restos de vida
o ponto de fuga a esta paisagem
não passa de um cigarro aceso ao longe
o ponto de fuga a esta paisagem
não passa de um cigarro aceso ao longe
a noite é assim o palco reservado
a um ensaio de coisas por nomear.
a um ensaio de coisas por nomear.
[Maria Sousa]
Away From Me
Eu segurei minha respiração quando essa vida começou a me cobrar
Eu me escondi atrás de um sorriso quando esse plano perfeito foi descoberto
Mas oh, Deus, eu sinto como se tivesse
Perdido toda a fé nas coisas que eu conquistei
E eu acordei agora para me achar
Nas sombras de tudo o que eu tenho criado
Estou desejando estar perdida em você
(Longe desse lugar que eu fiz)
Você não vai me levar para longe de mim?
Onde há quem tenha a pele...
...tenho a memória, sepultura
nenhuma atingirá profundidade igual à desta
nudez com quem a pele sempre tem sido hospitaleira.
[Luís Miguel Nava]
nenhuma atingirá profundidade igual à desta
nudez com quem a pele sempre tem sido hospitaleira.
[Luís Miguel Nava]
E não digo que venhas, que estejas já aqui, que tenhas vindo.
Mas nego-me a negar a espera da tua vinda. Deixa-me esperar-te. Nasci para isto.
[Alejandra Pizarnik]
[Alejandra Pizarnik]
A Fonte Secou
Eu não sou água pra me tratares assim só na hora da sede é que procuras por mim a fonte secou quero dizer que entre nós tudo acabou teu egoísmo me libertou não deves mais me procurar a fonte do meu amor secou mas os teus olhos nunca mais hão de secar.
Apaixonar-se sozinha
é apaixonar-se pelo silêncio. Um silêncio com fumos e espelhos. O amor, se é alguma coisa, é dos que se olham.
[Alejandra Pizarnik]
[Alejandra Pizarnik]
Podemos ficar sentados a noite inteira
à espera de um sinal que nunca chega,podemos num desespero sem nome perder
o gosto de tudo, enquanto o eu permanece
brilhante, estupidamente brilhante,
a sussurrar-nos ao ouvido a desgraça;
podemos, numa lufa-lufa, ir de filme
em filme, de livro em livro, como quem
sem terra procura uma casa, um lugar
a que possa chamar seu, onde tenha os seus
pertences e tempo para rir e tempo para
se aborrecer. Podemos ter pena de nós próprios,
podemos viver.
[Carlos Bessa]
o gosto de tudo, enquanto o eu permanece
brilhante, estupidamente brilhante,
a sussurrar-nos ao ouvido a desgraça;
podemos, numa lufa-lufa, ir de filme
em filme, de livro em livro, como quem
sem terra procura uma casa, um lugar
a que possa chamar seu, onde tenha os seus
pertences e tempo para rir e tempo para
se aborrecer. Podemos ter pena de nós próprios,
podemos viver.
[Carlos Bessa]
Todas as pessoas foram morrendo,
mais tarde ou mais cedo, de mortes diferentes que podem ter sido a chamada morte ou a chamada vida, e acabaram por desaparecer dentro de uma cova e cobertas de flores, ou talvez à superfície, na outra ponta da cidade (...)
Foram-se tornando vagos habitantes de uma mente desmemoriada, como eram, que vozes tinham?
[Maria Judite de Carvalho]
Por agora as palavras são marcas que os dedos deixam na pele
Quando já não há restos de voz na fala no momento em que devagar escrevo silêncio no corpoComo movimento imperfeito da respiração aceito lágrimas.
[Maria Sousa
[Maria Sousa
Reflexo - O grande mal da Humanidade é o problema do mal-entendido...
Não é demais repisar que "o grande mal da humanidade é o problema do mal-entendido". Por sua vez, os mal-entendidosdecorrem da patologia da percepção do pensamento, e resultam especialmente do emprego excessivo de identificações projetivas nas relações interpessoais.
Cada pessoa costuma depositar e atribuir a outra tudo aquilo que mais detesta e não suporta em si própria. Também não cabe , aqui, fazer um aprofundamento destes aspectos que nos levariam, inevitavelmente aos problemas de inveja, ciúmes, rivalidades, ansiedades, identificações, etc.
[David E. Zimerman]
Eu queria escrever-te uma carta
Amor,
Uma carta que dissesse
Deste anseioDe te ver
Deste receioDe te perder
Deste mais que bem-querer que sintoDeste mal indefinido que me persegue
Desta saudade a que vivo todo entregue...
[António Jacinto]
Uma carta que dissesse
Deste anseioDe te ver
Deste receioDe te perder
Deste mais que bem-querer que sintoDeste mal indefinido que me persegue
Desta saudade a que vivo todo entregue...
[António Jacinto]
Amor além de todas as convenções
Harux e Harix decidiram nunca mais se levantar da cama. Amam-se loucamente e não podem afastar-se um do outro mais do que sessenta ou setenta centímetros. Logo o melhor é ficar na cama, longe dos apelos do mundo. No entanto, o telefone está na mesa-de-cabeceira, e às vezes toca e interrompe os seus abraços: são os familiares que querem saber se tudo está bem. Mas essas chamadas são cada vez mais raras e lacónicas. Os amantes apenas se levantam para ir à casa de banho, e nem sempre, a cama está desarrumada, os lençóis gastos, mas eles não dão conta, cada um mais imerso na onda azul dos olhos do outro. Os seus membros misticamente entrelaçados. Na primeira semana alimentaram-se de bolachinhas, de que se tinham abastecido abundantemente. Como as bolachas acabaram, agora comem-se um ao outro. Anestesiados pelo desejo, arrancam grandes pedaços de carne com os dentes, entre dois beijos devoram o nariz ou o dedo mindinho, bebem o sangue um do outro; depois saciados fazem novamente amor como podem, e adormecem para recomeçar quando acordam. Perderam a conta dos dias e das horas. Não são bonitos de ver, isso é verdade, ensanguentados, esquartejados, pegajosos. Mas o seu amor está para além de todas as convenções.
[Juan Rodolfo Wilcock]
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